domingo, 30 de setembro de 2012

VALE DE LÁGRIMAS



eu gosto de vocês
mas não precisam se preocupar comigo
o meu caixão vai andando sozinho até o cemitério

a terra abrir-se-á  para me receber
canelas juntas
como semente a meus pés
o par de cordas vocais esticadas na garganta
não tem nada a dizer

toda vida é um mistério
não tem nada a dizer
que a gente leva a vida toda
e não consegue desvendar
pois o caminhar equivale a um vale de lágrimas nada além de um lampejo
apenas um desejo
alguém pagando mico pro realejo
                Tenho pela frente a vida inteira
mas por favor
um passo de cada vez
faz bem pra saúde do meu coração
tão sofrido de amor

hoje depois de tantas flores que lhe mandei
versos que eu lhe dediquei
eu sei por que meu coração
bate infeliz quando te vê
vendo você fazer um sobrolho pensativo
como se estivesse diante de um morto vivo,
uma alma penada,
sem lembrança do tempo em que foi feliz

 antonio thadeu wojciechowski, octávio camargo e bárbara kichner


parêntese irritante (*)

 
obrigado clássico

positivo

pela descrição dada aos vindouros

 
divulgar o chão

seus pertences:

bicho farinha

tudo na mesma aniagem

 
para gáudio da ciência

o homem

- antítese descalça

do sulista comiserado –

nascido em meio propício

ao estágio das insânias

 gratíssimo clássico

positivo

por descrever

m i l i m e t r i c a m e n t e

a dura linha do rosto

a cabeça


do alto

jagunço sub

atarracado pusilânime

conhecedor de ferro

 
(*) – in Os Sertões


Cândido Rolim

NÃO ERAMOS



não era eu
não eras tu
não erramos mais
a conversar

minhas palavras
não eram minhas
nem as tuas eram

tu hás de lembrar de tudo que se disse
mas muito mais do silêncio
que ficou mais pesado do que o ar
a água quando vira mágoa
é lágrima a rolar

minhas lágrimas,
tuas lágrimas
nossas lágrimas
a rolar do olho pra fora

pois não éramos nós
não estávamos em nós
estávamos sós
sós

 antonio thadeu wojciechowski , octávio camargo e cláudio fajardo

GRAÇAS A DEUS



passando por debaixo de uma escada
ai, que azar que eu levei
um gato preto faz figas na encruzilhada
pomba gira, tranca-rua que eu sei

sete velas acendi pra alguém
minha voz soando além das almas
eram choros, eram palmas,
candomblé, iemanjá, minha mãe das águas

superstições, crenças, fé
joelhos ferem a igreja da Sé
superstições, crenças, fé
joelhos ferem a igreja da  

graças a deus,
graças a deus,
graças a deus,
acendam velas

 antonio thadeu wojciechowski, octávio camargo e barbara kichner

FELICITO-O



felicito-lhe pelo passar dos dias
por todos esses aniversários
que você tem feito pela vida afora
jogando tudo fora

o passado e o futuro estão presentes
justamente agora
nem toda hora é de orar a um deus que chora

pois o pingo de uma lágrima
pode ser o dilúvio
quando tudo acaba em fogo

saia desse inferno enquanto pode
quanto mais incerto
mais o diabo fode

nem toda hora é de orar a um deus que chora

 antonio thadeu wojciechowski, octávio camargo, bárbara kichner e édson de vulcanis



APARECIDA, MINHA NOSSA SENHORA



aparecida apareceu na minha frente
era um milagre, vestido de gente
como se a lua, a mais bonita,
fosse o rosto dela que imita

as pernas bambas quase a dançar
um terremoto a me sacolejar
meu coração estava em festa
e a felicidade escrita na testa

até parece que o amor é um botão de flor
todo a beleza desta vida é parecida
com  você só você Aparecida

foram teus lindos negros olhos, minha negra
mistério e luz nunca é demais
um peregrino, que agora chega,
e nos teus braços fica em paz

 antonio thadeu wojciechowski e octávio camargo