segunda-feira, 24 de setembro de 2012

 A solidão

Eu venho de um outro mundo,
outro bairro, outra solidão.
Hoje como hoje, eu me crio atalhos;
eu não sou mais um de vocês,
tenho o aspecto dos mutantes; biologicamente me dou cabo
com a idéia de que sou feito da biologia:
mijo
ejaculo
choro
.Antes de tudo
devemos elaborar as nossas idéias
como se fossem artefatos. Estou pronto para os moldes.
Mas ...
A Solidão...
Os moldes são de uma nova matéria, advirto,
estão fundidas desde a manhã do amanhã.
Se você não tem deste dia o sentido relativo
da sua duração,
é inútil se atravessar
é inútil procurar
à frente de você,
porque de frente para trás, a noite é dia
mas...

A SOLIDÃO...
A SOLIDÃO, A SOLIDÃO!!!!!!

Antes de tudo
as lavanderias automáticas,
aos ângulos das estradas
são impertubáveis
assim como o vermelho e o verde dos semáforos.
Patrulhas de detergente
irão declarar onde será possível
lavar isso ou aquilo que você crê.
A consciência não é outra
senão uma sucursal daquele facho
de nervos de que lhe serve o cérebro.

E portanto...
A Solidão.

O desespero é uma forma superior de crítica,
por agora nós a chamaremos ''felicidade'',
porque as palavras que vos usam
não são mais do que palavras; mas uma espécie
de condução através da qual os analfabetos têm a consciência posta.

mas...
A solidão....

Do código civil falaremos mais
tarde. Por ora eu queria
codificar o incodificável
queria medir o poço de São Patrício
de vossas democracias.
Queria imegir no vazio absoluto
e me tornar um não dito, o não advindo, o não virgem
por defeito de lucidez. A lucidez
a tenho
nas calças, nas calças!

Leo Ferré
(tradução: Tullio S. Sartini)

Nenhum comentário: