Aconteceu de nos campos do sertão das Lajens, mais
precisamente, na Coxilha Rica onde homens e animais trafegavam nos corredores
de taipas, em longas e cansativas viagens, carregando sacas de café e charque,
com a determinação de conquistar comércio e fundar cidades um nobre espanhol,
chamado Pedro, ouvir falar de Maria Eulália, uma moça nativa do lugar.
Ele ouviu dizer, que essa moça, soltava pássaros que eram
presos em gaiolas. Ouviu dizer que ela fora presa, meses atrás, por um coronel.
E, ela mesma, se parecia com um pássaro.
Naquele mês, uma tropa de muares e de gado conduzida por
Aldonei vindo, não se sabe bem de onde, possivelmente de São Paulo, cortou-lhe
a frente e solicitou a Pedro que viesse com eles dividir uma carne assada nas
brasas. Pedro cansado, com fome e com sede decorrente de meses de viagem
conversou com os agregados aceitando o convite. Próximos de um desfiladeiro
desvencilharam os cavalos.
Conversa vai, conversa vem e o nome de Maria Eulália veio
para a prosa. Aldonei contou que Maria Eulália aparecera na vila numa noite
estrelada. A mãe deixara-a na porta da casa de uma vidente. A vidente
esquivava-se de falar sobre a verdade desta criança que com treze anos era de
uma beleza sem par. Pedro ouviu, silencioso, observando os detalhes da
expressão de Aldonei a cada palavra.
Quando Pedro chegou à vila foi perguntando para um e outro o
endereço de Maria Eulália, essa criatura de asas. O sapateiro disse que Maria
Eulália estava bem a sua frente e apontou para a rua onde ela puxava um cavalo
pelo cabresto com uma mão e com a outra segurava uma gaiola aberta. Os cabelos
de Maria Eulália voavam sobre a linha horizontal do dia e seu porte simples
lembrou-lhe, imediatamente, a de uma princesa da aristocracia oriental.
Pedro não perdeu mais tempo. Desceu do cavalo e amarrou-o no
tronco de um pinheiro. Adquiriu de um menino uma gaiola com um pássaro.
Abriu-a. E aproximando-se de Maria Eulália com o maior cuidado pediu que ela
ouvisse o barulho de suas asas.
De Mara Paulina Arruda
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