quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Sid-Friaça (Pseudocanto III)

Sid-Friaça sentado num canto do Madrugada relata os lances que o fizeram subir ao ascetismo. Sid-Friaça conta sempre com a sorte pra pagar a conta. No banco do boteco fétido esconde e educa a prole (a ser também asceta). Por longos anos mourejou na Índia, em Goa, em Moçambique, levado pela esquadra do Restelo, na empresa finda que o poeta canta e que o Queirós queria reatada por Ramires. Agora seu pendor heróico é morto pelo excelso maquinário que o domina. A fábrica. A vida confinada em meio ao torno e o ponto do relógio. Sid-Friaça come as moças mais insanas de beleza e sina oferecida aos gajos que caminham retos pela ponte de Bouvard Moças gordas como pelicanos, feias e disformes, com as banhas podres, misto de deboche e maquilagem. moças magras e miúdas, pequenas e ossudas como garças desesperadas, gralhas presas atrás de grades. Moças que debalde se oferecem quando passo classe-média no Passeio. Mas Sid não, que não é disso; é forte e rijo tomador do biotônico da vida e da desesperança. Sid ensina a todos que não há saida. Que a moça oferta em frente à réplica do pórtico do cemitério de Cães da cidade de Paris é tão boa meretriz e faz gozar como qualquer puta que há no antro mais famoso e fino de Campinas e Curitiba. Sid-Friaça heróico Sid-Friaça, ressurgido do Restelo receita que somente presta a embriaguez noturna do bufão errante: "A névoa não esconde todo o cinza da manhã Seus olhos já revelam esta grave inquietação Os ônibus lotados de fumaça e de cigarro fedendo-lhe a miséria como lixo e como merda (...)" Sid-Friaça Vive no Hades, com Elpenor. Paulo Bearzoti Filho Fator X (Cadernos Militantes nº 12, Curitiba, novembro de 2011)

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