sexta-feira, 5 de abril de 2013

Sonhos VI





Tive uma madrugada conturbada, com o nariz entupido (rinite, souvenir de despedida do cigarro), espirros e vários sonhos –pesadelos– bem psicanalíticos e torturantes. Cena após cena, cada pessoa que amo, despedia-se de mim e morria. Assinei inúmeros documentos pegando guarda de filhos, testamentos. Minha cachorra, estava morta. Parecia empalhada. Dentro dela, nasciam vários escargots. Esta visão me afligia. Corri pedir ajuda a uma senhora, julgando que fosse minha avó. Na verdade, tratava-se de uma mulher com alma de monstro. Ela me ameaçava e fazia torturas emocionais. Todos estavam mortos. Minha mãe foi a última. Lá pelas tantas, escrevia a um diário que, eu não estava chorando de dor, mas uivando. Podia escutar meus uivos, idênticos aos de Lolita (Dominique Swain), na segunda versão cinematográfica (1997) ao livro de Vladmir Nabokov. Também sonhei com meu último namorado. Ele conversava comigo, mais cruel do que nunca, através de múltiplas personalidades. Ria sádico de minha confusão psicológica. Seu sorriso parecia com o de Hannibal Lecter, em The Silence of the lambs (1991). Diabólico. Lá pelas tantas, fui lançada em uma cena que parecia-se com um filme de Glauber Rocha. Sol forte, calor escaldante. Trabalhadores nordestinos, vestidos com roupas puídas e encardidas, passavam o dia na enxada e apoiavam o apedrejamento e crucificação de uma mulher adúltera. A mulher, uma linda morena, de longos cabelos escuros. Alguém me sussurrou que ela era inocente. Seu marido, cabra da peste, revoltado, assassinou-a, organizou um motim contra ao fazendeiro, dono das terras e, depois, enrolou-se em uma grossa corda e enforcou-se do alto de uma ladeira. Os outros trabalhadores comemoravam, extasiados, aquela carnificina do meio-dia. Quando acordei, a garganta latejava de tanta dor. Os músculos do corpo todos enrijecidos. Com muito custo levei minha cachorra, Pérola, passear. Agora, trouxe o colchão para a sacada e estou de camisola, deitada sobre edredons. Pérola dorme tranquila e Teresa Geni, minha tartaruga, tenta escalar uma grande almofada. O movimento da subida a excita, então, ela se masturba. Estou com as cognições cerebrais tão lentas que, francamente, não me importo. Hoje, as condições de tecer comentários substanciais me abandonaram temporariamente. Dizem que esta virose veio do cocô dos pombos da Coréia do Norte.

("Sonhos VI". Publicado originalmente em meu blog, Malandragem nas Palavras: http://priscilamerizzio.wordpress.com/2013/04/05/sonhos-vi/?preview=true&preview_id=580&preview_nonce=c276241756

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