quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ANTICABEÇA (II)


Lona podre, nacos de carne, torsos caindo; escuras mariposas (stukas) caindo; sirenes, uma canção.
Bater nos cornos do céu, capricórnio adoece em luzes de urina; olhos blindados; cano de fuzil apontado para a lua.
Esferas ou cilindros de cérberos; o aço grunhe; rajadas de agni; fogos-fátuos; bocas lanhadas por detritos.
Há um pássaro de três cabeças, e um só canto; uma jovem nua flutua no céu.
Emily pediu um livro (borboleta voando) de gravuras coloridas (sonhada por um chinês), com capa veludosa (desejada por um gato) e marcador de páginas (com bigodes de mandarim).
Ela, que ama peônias, biombos, nanquins, e sonha ser enfermeira num grande hospital em Berlim.
Ela, que ama o verde mar de gaivotas, e a prata que cintila nas peças do aparelho de chá.
Isso foi há quanto tempo? Havia um piano de cauda e lenços brancos, pedaços de carneiro e o pôr-do-sol.
Agora, só há o verde-prata, ou verde-escuro, verde-panther; na boca do dragão.
(Como um livro) (de figuras) (metálicas;) (imagens) (d’esqueletos) (turvos;) (surdos) (espectros) (em sarabanda,) (invernal.)
Palavras zumbem na mente; difícil caminhar com o peso do mundo. Este é um tempo sombrio, tempo da impureza, do branco mesclado ao amarelo.
Lao Tzu rumou para o Sul, montado num touro, búfalo ou grou. O guarda da fronteira pediu-lhe sua inútil sabedoria.

Claudio Daniel

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