Tunisiano de cabeça nervurada assenhora-se
da unha mínima
da história
enfurece letras que são bichos
de um minucioso horror
quando a morte engole manápulas
e adensa paisagens-vértebras
daqueles que não têm nome daqueles que
não têm nome nenhum nada além
de ninguém
tudo é um jogo desjogado de lacraus
letras que são bichos no escuro letras que
são lepras de lorpas no escuro
tateando entre os tufos da fome tateando
entre os húmus da usura tateando entre
assemelhar-se anfíbio
assemelhar-se reptante no asco
da rachadura no asco do desvão
em que se obliteram as anfetaminas
da desmemória
linhas incisivas num crescendo menos o focinho
menos a mandíbula menos as
tíbias esmagadas no
fosso monocromático do não –
há uma caixa torácica que canta
sozinha no deserto de Mojave
onde marines enrabam desvestidas traqueias
antes de matarem qualquer coisa viva –
dentes-de-leão ressonam numa tarde esfumada de setembro
em que um poeta (tunisiano?) soletra a sub-reptícia
sombra da vivissecção.
Claudio Daniel
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