● o mundo mudou demais sancho ●
● mudou alem do q sempre muda ●
● mudou como se não mudasse ●
● virou cobra esperando a hora ●
● do bote entre a lingua e o mundo ●
● e a conversa perde o leite do bem ●
● tão separada das coisas q o abismo ●
● basta ciciar basta começar a narrar ●
● pra engolir falado e falador e mais ●
● o mundo mudou demais sancho ●
● é so falar e arengar sem precisão ●
● a tolice dos vermes na carne mole ●
● esse ruido esse silencio esse nada ●
● vem bem do centro das palavras ●
● doidas como galinhas apavoradas ●
● so restou fuxico vazio sancho ●
● garrafas q não receberam vinho ●
● desejando ser garrafas de vinho ●
● o mundo mudou demais sancho ●
● não são as grandes e sumas forças ●
● as tempestades depois de passarem ●
● nem a grande imaginação o sonho ●
● esse q atravessa a terra o oceano ●
● e tudo toca desfigura e transforma ●
● mas a palavra vazia a palavra nua ●
● quase um grito um berro o gemido ●
● cobiçando ser mais do q é sem ser ●
● o mundo mudou demais sancho ●
● agora é o tempo gordo do menos ●
● hora onde não ha hora nem luta ●
● não ha deus nem mundo nem nos ●
● nem mesmo o povo e a casta vox ●
● nesse mar q se abre e não dura ●
● mas desde sempre o corpo resiste ●
● agora sim sancho podemos tudo ●
● revolver e inventar e recriar a vida ●
*
Alberto Lins Caldas
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