quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

SERPENTINATA



I

Já que não desprezo nenhuma palavra,
encanta-me pergaminho
onde estranhos cães
da fala.

Nuvens de parietais
dizem a lavoura
obsessiva dos cutelos:

excessiva porque necessária,
investe mamífero mamífero
ante o lacerado pêlo púbico

— molusco esse desprezo
que se faz habitação.

A mobilidade das estruturas aquáticas
desorienta solidez de partículas,
(numeração da língua)
desentranhadas até o

ignorado.

Cresce nas axilas,
nos limbos, cremalherias,
nos estudos para voz:
é o seu inexorável destino.

Antiesquelética nebulosa
redefine o tempo e suas cavilações
no jogo permutatório
dos contrários.

(Estes são os meus instrumentos,
minhas paisagens estratégicas
para violar tuas orelhas,
tuas cavidades,

que se recusam à minuciosa
cabala de meu olhar.)

(Encanta-me tua letra, esqueleto de meu canto,
voz que acende estranhos cães.)

A revelação está na língua
que incita ao asbesto da orgia,
à mais temporária das peles,

quando vemos pégasos de outro sonho
e nossa incapacidade de laçá-los.


II
estranha mulher intercambiáveis
folhas de outono
ou lâminas de aço

sem corrosão

relaminadas fina a frio,
ou apenas murmúrio
sem jardins nem quintais

só o alinhamento do corte:

o pensar do coração – alto carbono
em conformidade
com a memória –

(nua entre fósforos acesos)

um adeus e o carboneto de vanádio
em oposição ao cromo –
decapadas, expandidas, minimizadas

palavras entre tuas perplexas peles:

a resistência mecânica do substrato aço
– retalhos, chapas, tubos, barras
e sucatas de ferrosos, para fundição
Claudio Daniel

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