I
Já que não desprezo nenhuma palavra,
encanta-me pergaminho
onde estranhos cães
da fala.
Nuvens de parietais
dizem a lavoura
obsessiva dos cutelos:
excessiva porque necessária,
investe mamífero mamífero
ante o lacerado pêlo púbico
— molusco esse desprezo
que se faz habitação.
A mobilidade das estruturas aquáticas
desorienta solidez de partículas,
(numeração da língua)
desentranhadas até o
ignorado.
Cresce nas axilas,
nos limbos, cremalherias,
nos estudos para voz:
é o seu inexorável destino.
Antiesquelética nebulosa
redefine o tempo e suas cavilações
no jogo permutatório
dos contrários.
(Estes são os meus instrumentos,
minhas paisagens estratégicas
para violar tuas orelhas,
tuas cavidades,
que se recusam à minuciosa
cabala de meu olhar.)
(Encanta-me tua letra, esqueleto de meu canto,
voz que acende estranhos cães.)
A revelação está na língua
que incita ao asbesto da orgia,
à mais temporária das peles,
quando vemos pégasos de outro sonho
e nossa incapacidade de laçá-los.
II
estranha mulher intercambiáveis
folhas de outono
ou lâminas de aço
sem corrosão
relaminadas fina a frio,
ou apenas murmúrio
sem jardins nem quintais
só o alinhamento do corte:
o pensar do coração – alto carbono
em conformidade
com a memória –
(nua entre fósforos acesos)
um adeus e o carboneto de vanádio
em oposição ao cromo –
decapadas, expandidas, minimizadas
palavras entre tuas perplexas peles:
a resistência mecânica do substrato aço
– retalhos, chapas, tubos, barras
e sucatas de ferrosos, para fundição
Claudio Daniel
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