quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

passei anos não acreditando em nada
agora faz um tempinho decidi acreditar em tudo
o mais difícil é acreditar em mim mesmo
mas até isso entra no exercício diário de acreditar em tudo
acreditar em tudo
se você me diz “com treino o nosso espírito consegue sair do corpo enquanto a gente dorme”
beleza, vamos nessa
se alguém vem com “esse lugar tá tomado por exus e aquela gordona ali é o para-raio”, massa
ou se “ai, fiquei toda arrepiada, passou um anjo”
deve ter passado mesmo, por que não, ué?
ou se me chegam com ectoplasma, reencarnação
ou “pede com fé pra Deus que ele atende”
"tinha uma força, uma luz que vinha do papa toda vez que ele aparecia na televisão, eu podia sentir, você não?"
ou “leva o menino na Dona Maria que ela cura ele com um dois passes”
sim, em tudo, acreditar em absolutamente tudo
leituras de borras de café
leituras de mãos
leituras de olhos
clarividência
ocultismo
recodificação mental
agora boto fé no poder curativo do violão tocado pelo Murillo Da Rós
nas peças teatrais de Roberto Alvim manipulando energias misteriosas a ponto de levar algumas pessoas da plateia ao vômito
nos sonhos que B teve comigo com crianças mortas e proteção
na psicanálise
medicina milenar chinesa
na mediunidade
Oráculo de Delfos
psiquiatrização geral
no rapé abrindo as vias aéreas e naquela pajelança que a gente faz com maconha
o diabo no corpo
no descarrego com banho de arruda
nas entidades chupando chupeta no terreiro de umbanda
no poder transcendental do gozo a dois
passei anos não acreditando em nada
agora faz um tempinho
Luis Felipe Leprevost


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