sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

UM PRESENTE ESPECIAL




— Tá caro!
— Mas é o preço, senhor!
— Vê se me faz um desconto maior.
— Já lhe fiz o menor preço possível.
— Então, ache um modelito mais simples.
— Esse aqui é o mais rústico que tenho.
— Não tem nenhum com defeito de fábrica?
— Eu tenho um com defeito na alça, mas pelo que o senhor falou, ele não caiará sob medida. Para quem é?
—É para minha sogra. É o único presente que darei a ela. Devo reconhecer que apesar da difícil negociação, essa compra está me dando um enorme prazer.
__ Tenho uma mercadoria no estoque de preço bem razoável, mas chegará somente daqui dois dias.
— Não posso gastar muito além do que a velha vale. A bem da verdade, por mim, enrolaria ela num lençol velho e jogaria no mar, mas sabe como é que é, ela é mãe da minha esposa, e avó dos meus filhos.
— De que morreu sua sogra?
— Creio que envenenada.
— Não foi o senhor que ...?
— Claro que não, por mais que não gostasse da velha, eu não seria sujar minhas mãos com a velha. Ela mesma se matou.
__Suicídio!
__ Não exatamente, segundo o médico, engasgou com sua própria saliva. Tenho para mim que ela mordeu a língua e morreu envenenada.
__ Diante dos fatos, acho que esse com a alça quebrada serve, é só deixar a velha meio de lado e depois forçar um pouco para fechar o caixão.
— Fechado o negócio!
Julio Damásio

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