domingo, 6 de novembro de 2016

SEGUINDO UMA NUVEM

SEGUINDO UMA NUVEM com os olhos faiscantes, havia na bela mulher algo de esperançoso e também melancólico. Era uma mistura, uma indefinição conceitual sobre o seu olhar que tanto já havia presenciado. Agora, diante da Fortaleza dos Reis, lembrava-se de uma vida vivida há trinta anos, seus pais e único irmão caminhando sobre a areia fina, produzindo uma certa música que seguia o ritmo dos passos a deixarem pegadas fundas. Eram fundas também as memórias. Viver na Europa todo aquele tempo somente adiara a dor de ter perdido raízes e pessoas. O Atlântico perturbado pelos ventos fortes reforçava sua carência de nova travessia. O seu retorno ao exílio era agora a única esperança de recuperar alegrias e sentimentos perdidos.

Lívio Oliveira

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