(das coisas que escrevi em 2016)
Paul pintava como quem compõe uma partitura. No final, somos
todos: música A cor me possui, ele dizia. A palavra me possui, eu digo. Em meus
escritos a dor grita nas entrelinhas. Tento compor a alegria, mas ela só cabe
na Natureza. Quando digo da alma do homem é sempre dolorido. Paul pintou corpos
desmembrados enquanto convivia com a doença (esclerodermia) que migrou para o
seu corpo em 1.935 e ficou até sua morte em 1.940. A agonia vaza. Os nazistas o
taxaram de incompetente. Voltou à Suíça, a cidadania não lhe foi concedida em
vida, seis dias após sua morte ele tornou-se um cidadão suíço. Hoje vejo Klee
como cidadão do mundo. Ao final da vida, cativo da dor. Não é bom ficar batendo
nesta tecla. Não é bom gritar esta parte pequena do que somos: pura dor. Sinto
uma mão úmida e tensa a tomar minha mão, ouço uma voz que me pede para não
ficar martelando nesta tecla de agonia como se estivéssemos vivendo dentro de
uma sinfonia de Stravinsky. Há o ponto de fuga. Penso que é isto que Paul
sussurra setenta e seis anos depois de sua morte, nesta sala, na manhã cinzenta
de um país tropical.
-- Diálogo com Paul Klee -- Bárbara Lia – 2016
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