Já poetei com prosa, proseei com poesia, proselitei a morte
do poema.
Então pergunto do mais profundo abismo e ninguém ouve minha
voz.
Onde estás que não respondes?
O que seria da luz, não fossem as trevas?
Meu poema entrou em colapso cardíaco, eletrocutou-se nos
postes da Copel.
Minha prosa foi cremada, as cinzas lançadas no esgoto
caudaloso da Sanepar.
Ah esse dia com cara de missa de sétimo dia!
Esse frio rancoroso de nevoeiros nublando em pleno solstício
de verão.
Fico nostálgico, melancólico, sorumbático, minha consolação
é a Filosofia.
Quero dias tórridos, noites cálidas com hálito de verão.
O sentido da vida?
Nem me pergunte, que agonia.
Amordaço com o celibato, cinjo o rim, sublimo a irrefreável libido,
amortalho-me no fundo do poço.
Que me dizem, amigos e amigas, desse sol embaçado, soturno,
que era para fulgir na manhã de hoje na Serra do Mar, mas fugiu cinzelando o
céu de um cinzento cruel?
Vou torcer para que a manhã de amanhã não seja invernal,
seja de Natal em todos os quintais de pinheirais na terra da padroeira a Luz
dos Pinhais.
Por hábito finesse, empunho a taça da cachaça, um cuspe no
chão, um gole pro santo, outro pra mim.
Bebo uma pinga pra silenciar o sininho da goela, suavizar o
gogó da garganta inflamada.
Enquanto isso, pingam faíscas de uma chuva finíssima.
Minha tristesse...
Estou spleen, sim, isso não tem cura nem fim, eu sei.
As flores do mal não me cheiram bem.
O espírito inserido no telúrico corpo-carcaça absorve a
cachaça.
Entorpece a alma lírica.
Eclipso-me encapsulada no leito-mortalha.
Então vou dormir a noite purificadora de São João da Cruz.
E sonhar.
Subirei os degraus do altar de Deus, o Deus que alegra a
juventude.
Chacoalharei turíbulos de incensos, fazendo soar a campainha.
Acenderei o candelabro do Chanuká.
Subirei o Monte Carmelo.
A dor aliviarei no Monte Tabor.
Boa Noite.
José Aparecido Fiori para Feira do Poeta Curitiba
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