sábado, 24 de dezembro de 2016

  -Imagino-me cego andando sem poder orientar-me pelas ruas de um país exótico (em que pese o senso da margem) sem entender a algaravia, sentindo-me  incompleto e desamparado diante de outra cultura ,onde a identidade me é sonegada por mistério .Gerações passam em segundos de desespero represado.Quando finalmente,as luzes doiradas de luas iluminam o sorriso da alma ,por tanto tempo soterrada pela areia da velha terra.A chuva de punhais de prata passara para dar boas vindas ,não sou mais um alien,estou entre iguais.
     A cidade tropeça em calçadas onde pés de terras longinqüas passaram,legando o barro de suas cicatrizes de pungente vida ,em particular no centro,onde reverbera o pulso liquido,taquicárdico ,quando o Sol se vai afastando vagaroso no horizonte.Ainda o vozerio torna a vida  do cego plena de aventura: ao passar pelo sul da china , Libâno ou Damas ,ouvir a neve dos andes nas flautas andinas ou o sotaque italianado do espanhol bonaerense.
     É uma urbe pequena porém com o úbere pleno.Na pequenina mulher sina com o putinho às costas ,ela jovem e visivelmente perdida .Letras e números os quais não lhe revelavam nada,ela vagava feito morceguinha adolescente enquanto na lancheria à frente uma anciã esbraveja palavras curtas e supersônicas acompanhadas por terremotos faciais que provocaram  o desaparecimento do franzino ramo de arbusto expulso pela ventania das ventas ,ela voltou-se com um sorriso para atender o "fleglêis".
     A jovem chinesa com  a criança presa às costas olhava para placas que não lhe contavam como descobrir algum conforto .Quase fora atropelada pela manada atarantada no estertor do dia ,mas finalmente,quando a pedra do desespero estava prestes a esmagar a esperança,apareceu um outro oriental que falou alguma coisa para ela no disfarce do silencio de olhares e sorrisos ,e depois foram embora ,ele à frente  e ela alguns fantasmas atrás.
     Quantas lanchonetes e pastelarias ,restaurantes chineses,onde estarão os japas e os "brimos".
                                                                        Wilson Roberto Nogueira


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