terça-feira, 6 de dezembro de 2016

o senhor descerá as escadas



o senhor
descerá as escadas
aos saltos
para o sol imenso inseto
que beija
                 a flor da carne
e a navegação das árvores

escandirá o alfabeto
                  do milho
como se jantar
           fosse um naufrágio
ou a queda vertical
de um edifício
de 25 vértebras

o senhor verá
           o apocalipse
         no dia-a-dia
acordará em praias
de pólvora
após suicídios
de 12 horas       

verá o operário
crucificado na madeira
             de um andaime
e o som do aspirador de pó
                               na sala
será teu último fôlego

o senhor verá
           o êxtase
         no dia-a-dia

criará a trova
de não cantar
       e o que se arroja
ao fogo, à luz
                 e ao pânico

o terremoto subcutâneo
o exaustor do jasmineiro
                em cada célula
e cavidade dos dentes
em cada nervação
                    das asas

sua régua de ponto
medirá imensos
seu surto de cólera
o tirará da terra
    um deslocamento de ar
        em seu peito
relva e usina
de produzir
                aves                

e quando enfim dormir
antigo
             como um réptil

o senhor sonhará
um incêndio
em suas pálpebras

   Rodrigo Madeira

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