E a cada manhã nos lançamos céleres,
crestados de sol, nucas em febre,
deixamos passar o fundamento,
abraçamos a carne ocasional.
Ouvimos gritar as gaivotas,
os navios achatados de horizontes
e o céu, ainda claro, de novembro.
Vontade de partir,
deixar no cais as tramas sem sentido.
Quantas mãos nos manusearam,
quantas perdemos,
em quantas enredamos palmas
e ao partir rompemos.
Redes porosas em nós urdidas
ficamos a esperar alguém que nos remende.
Esse entre-nós, esses buracos,
sem eles, não,
e, no entanto,
os queremos preenchidos.
Cabeças baixas, costas humildes,
pelo ar carregado de viagens
prosseguimos.
Queremos a estrela.
De Ana Mariano
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