A essa altura, sei que não mais adianta, um copo de cerveja,
a cartela de neurolépticos, aquela agulhada no pé ou a contemplação desse céu
embaçado que maltrata qualquer ideia de vastidão.
Organizei, por datas e sentimentos, desenhos e textos. De
nada vale o peso morto de uma mulher, nos rondantes escapes, pois permanece a
inutilidade da matéria fria sobre os sentimentos caçados em eras de quereres
imos. Só organizo.
Preciso ir.
-
O chiclê dos suicidas me enjoa a alma, faz rir e levita a
poética com a aresta principal do olhar, como se um campo devastado por pragas
alimentasse o senhorio com o orgulho dos restos.
Tolice.
-
Analiso o poder baldo das amantes com notas fiscais, do
cultivo de zinco entre os dentes, de líderes abatidos na sexta-feira santa, dos
poetas apáticos com suas poesias mornas.
E quero queimar.
Droga!
Revirar mentes, descolar a pele que enclausura o sentir,
invadir fármacias e curar o real que se instalou como rei nessa esfera densa de
terror.
De nada vale essa voz que indica as fugas matinais. Saí! Sou
estátua que restou após os bombardeios, não sei ir. Some daqui!
Viro o copo, entorno os remédios, aqueço a colher e observo
as nuvens da cidade choro.
-
Volto a escrever
Nas paredes do corpo
Esqueço vírgulas
No braço azul
De nada adianta
Minha heroína
Decepada,
Poética Ruim.
Camila Passatuto
Nenhum comentário:
Postar um comentário