terça-feira, 9 de julho de 2019

Depois da Cidade




Agora que procuras o verso ideal, que inicie o novo poema
E encerre um primeiro, agora que é maior o malogro.
E tu bem sabes o tamanho disto, a distância entre o que acham e o que corriges.

Menores assim as premissas que te cabem.
O teu verso parco, o teu desgosto, o teu sorriso inócuo (inócuo porque és incipiente),
O teu abraço desajeitado, a tua eterna obra em aberto.
É depois da cidade que os suspiros se ajustam.
É depois da cidade, esta que nunca foi tua, onde não existem mais motivos.

O coração não foi nunca mais aquele pedaço esquecido do acaso,
E o escopo largo dos sorrisos escamoteia a nuvem negra sobre a cidade
Enquanto as portas se fecham a toda prova

E os guizos nos pescoços das crianças gemem como elos achados de uma fantasmagoria.

Por conta do que vai escrito não houve mais recusa sob hipótese nenhuma.
O trem suburbano viajando na madrugada para mais um dia de trabalhos forçados,
E o dinheiro estará lá, contado, e o infeliz também estará lá , com certeza.

O coração bate compassado como numa marcha.
Existem aqui cadafalsos em cada pendência.
Cada passagem e sua impossível sentinela esquálida parafraseando a metamorfose dos fracos a deitar a vista
Sobre os cumes elevadíssimos da competência – ai! competência à paga de tanta fuleiragem:
O morto futuro antevê o seu defunto.

Se toda a palavra fosse uma alegria, uma consonantal alegria impronunciável (?),
E aqui nada haveria como vai; amanhã é sábado, não levar consigo os escrutínios.

Às vezes é tudo o que se avista daqui: grandes pensamentos terminam em ócio,
Embora o miocárdio seja insistente na sua jornada finita.
O sangue reticente foi o alvo que agora a seta difusa não quererá mais atingir,
Seu modelo principal foi o pecado, a multa que a parafernália dos íntimos não observa.

Aqui estarias saturado de incompetência e desespero,
E sabemos que ninguém advogará em sua causa, coadjuvante que és na esfera do lindo.

               
Ari Marinho Bueno


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