sexta-feira, 12 de julho de 2019

Alegações




O poema fura o silêncio.
Esgota um projeto de nação.
Faccional, entope os bueiros da cidade.
O poema é esse gosto pela dinastia
falida das palavras alinhavadas pelo fel.
O poema explode a metáfora
mas insere no ritmo sua tensão maior.
É, sobretudo, iminência.
O poema perambulando na quadra da morte
desafiando o buraco causado
pelo som, vibrátil, concêntrico
dizendo-se ilharga das folhas
e percepto vegetal.
O poema é você de frente, de costas
pro silêncio continental
de um quarto de século
no spacatto e no sopro
de um bailarino enfurecido
que se tumultua ao sabor do gesto –
o poema não presta e você não presta
mas tudo nele é movimento: te concerne e te preza.

*

(2018)
RTD

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