(por Ramon Barbosa Franco)
"- Descendo aqui, o 'sinhô' chega 'nu' seminário de
Jesus".
O lavrador, que havia se afastado da turma que colhia
algodão na beira da estrada, dava a coordenada para aquele homem de pele clara
e sotaque estranho. Voltou para os colegas e ficou observando, à distância, o
viajante que cortava chão somente com as duas pernas.
"- Nessi mundão a gente vê cada um".
Ficou colhendo, ensacando os tufos e o sotaque estranho
seguia seu rumo. Lembrou que aquele tinha qualquer coisa de gente da colônia,
do pessoal que morava para depois do trecho represado do Paranapanema. Tinha
lidado com a colheita de soja por lá e lembrava do jeito dos velhos, que os
novos chamavam sempre de 'oma' e 'opa'.
"- Que será que ele vai fazê no seminário de
Jesus?".
Seguiu a colheita.
No outro dia, a turma tinha descido mais a plantação, no
mesmo rumo para o seminário. Ele se achegou num tronco da cerca de arame
farpado, tinha uma bolsa pendurada. Mexeu, viu apetrechos que lembravam os de
dentista.
"- Deve ser do homi de onti".
Recolheu e amarrou na cintura, junto com o saco onde jogava
o algodão.
"- Um dia ele 'vorta' pelo estradão e eu entrego".
Não voltou e os apetrechos, que depois ficou sabendo que
eram de médico, serviram de relíquia para atestar uma história que ele contava
com emoção:
"- Por esta 'luiz' que me 'alumia', aquele homi era o
'tar' de Menguele! Certeza, o seminário ficava em Assis. E ele se escondeu
lá".
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