quarta-feira, 10 de julho de 2019

Epifania




homero gomes

Para ana damm –
que teve essa epifania aos 6 ou 7 anos de idade.

Ela caminhou lentamente em direção àquele volume de luz clara que se expandia. A areia era fofa nos seus pés. Sentou no escorregador apenas para ver.
Crianças corriam, caiam, davam risadas. Viviam sem perceber a possibilidade de virarem sombras nos brinquedos retorcidos.
Mas ela percebeu.
A menina viu o fim brotar com esplendor; feito o amanhecer de pequenas nulidades.
Ela percebeu que os ossos das crianças correriam os ventos gemendo futuros. Viu os seus ossos pequenos virando poeira de infância.
E sentiu medo de deixar de ser.
O pequeno corpo da menina estancou no meio do parque. Sem querer brincar, anulou o grito e esperou a primeira fagulha.

Revista Cult, ano 11, n.º 130, novembro/2008.


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