Começava a perceber a razão de qualquer atividade . Não era a única maneira de se afastar de si ? O gato não precisava disso : podia viver pelos cantos , indiferente ao mais .Antes que o levassem para o quarto austero, só sabia rondar feito o bichano, submerso numa aparência que não se lembrava de ter visto em algum lugar . Agora estava ali , desenhando uma coisa parecendo uma gaze , por horas , até o momento do chá . Bebeu-o , a mão esquerda nos traços ainda quentes. Olhou pela janela do pátio . Uma bola parada. Desceu para encontrá-la . Pegou-a . Mirou.Fechou os olhos e a jogou. Atrás de uma coluna , um surdo impacto : alguém a conteve no peito e ali ficou. Voltou para o quarto. Fez do lençol um manto. Das bordas de pia , uma balaustrada. E se extasiou...!
João Gilberto Noll. in Relâmpagos. FSP 120201
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