Tentei aquele amontoado de palavras predefinidas para os
dias tristes, untei os pés com lodo divino e recitei ações infundadas na resma
de vontade cujo valor e função dissipava minha existência.
Esperei o ônibus conforme a rotina, e o céu vomitava um
púrpura tumular sobre a massa que mal sabia das padiolas que a sustentava, era
o avesso de uma utopia, o chão de lava que tantos temiam.
Estava ali.
Eu queimava, os capitães do mato choravam nas varandas
frescas de famílias engenhosas e coloridas. Era horrível, bonito e infantil. De
uma balbúrdia visual capaz de afetar um deus desatento.
Tentei um poema curto, cheio de sangue, baço esmagado e
rimas primárias. Nada.
E tinha quem pregava que as linhas eram irmãs puras de
estrofes inteiras. Coitados. Cegos. Ineptos.
-
Hoje, no calcanhar gangrenado do tempo, beslico uma
mortadela ruim e esqueço do universo sombrio que levo nas pontas dos pés.
Carrego o bolso da calça apertada - caralho, engordei cinco
quilos desde aqueles dias - com pinos suficientes para minha equatoriana e eu.
Corre. Joga a toalha enquanto há vida, amor.
-
Lembro que testei uma estrofe mordente, filha de ventos e
mares, cruel e capaz de engolir uma cidade inteira. Assustei-me, e fui escutar
Leci.
Derreto os olhos no tormento que me cabe, não há saídas
alternativas, alguém me avisou.
-
Fico com o velho cheiro de morte
Troféu abrasador dos aflitos
Tentei. Juro.
Conforme rotina
De mãe morta
A ninar com vermes
O intruso que habita seu ventre.
-
Eu queimava.
Era horrível, bonito e infantil.
Eu falhei.
Camila Passatuto
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