(Maristela Scheuer
Deves)
Acordou do desmaio deitada na cama e tendo ao lado uma
aflita camareira, que não sabia o que fazer com aquela hóspede que desmaiava ao
receber uma simples rosa. Por mais que perguntasse, não conseguiu descobrir
quem deixara a flor na portaria – mesmo resultado dos inquéritos que fizera
quando da entrega dos buquês no seu apartamento. A cabeça ainda girando,
questionou-se se valia a pena continuar no hotel, uma vez que o esconderijo
fora descoberto tão facilmente.
Decidida, apanhou a mochila e desceu para fechar a conta.
Pensou em almoçar – já era quase meio-dia, o tempo se escoava rapidamente –,
mas abandonou a idéia. Sabia que, naquela aflição, nada pararia no seu
estômago. Rumou de volta para casa, e, no caminho, jurou que seus últimos
resquícios de sanidade tinham se esvaído: o porteiro do hotel, o guarda parado
na esquina, o senhor de idade sentado no banco da praça, o taxista, todos
pareciam olhá-la de maneira estranha, furtiva, suspeita.
Não foi diferente ao chegar no prédio no qual morava: o
homem que saía rapidamente e no qual esbarrou, o zelador, a meia dúzia de
vizinhos pelos quais passou no corredor – seria um deles?, perguntava-se ao
olhar para cada rosto. Trancou a porta do apê e depois a porta do quarto.
Jogou-se na cama, em lágrimas. Não aguentava mais. Acabou adormecendo, e nos
sonhos – ou alucinações? – os rostos mais uma vez se sucediam, conhecidos ou
desconhecidos, todos ameaçadores.
Acordou com o toque insistente da campainha, e assustou-se
ao olhar no relógio: já passava das 16h! Ainda semi-adormecida, olhou pelo olho
mágico, mas não havia ninguém no corredor. A dormência evaporou-se como num
passe de mágica, os últimos acontecimentos voltando como uma torrente. De
repente, um dos rostos do sonho fixou-se na sua mente. Claro!, pensou, começando
a tremer mais uma vez. Como não pensara nisso antes? Era óbvio, só podia ser...
Estranhamente reconfortada agora que sabia quem era seu
inimigo – sim, tinha certeza, não havia outra alternativa –, sentiu-se calma
pela primeira vez em meses. Foi ao banheiro, lavou o rosto, voltou ao quarto e
arrumou-se cuidadosamente. Então, saiu rumo ao Cemitério Municipal. O horário
do enterro estava chegando, e ela estava decidida a não perder a festa de jeito
nenhum.
(não perca, no próximo mês, o final dessa história!)
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