sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Olá, como vai?




Já faz alguns anos que sempre que uma pessoa me pergunta como vou, respondo: “Normal”. Sempre digo a mesma coisa.
Essa sentença é terrível, mais para mim, que sei que eu estar indo “normal” quer dizer que vou indo, como sempre, mal. Até mesmo dentro da palavra normal existe o advérbio “mal”.
Não há nada mais desanimador para uma pessoa que ter uma vida normal.
Explico: esses dias, fui jantar com um amigo que há muito tempo não via. Começamos a perguntar um para o outro como ia nossa vida.
E eu lhe indaguei: “Como está tua vida, afinal, meu amigo?”.
A resposta dele foi incrível: “Razoável”.
Posso estar enganado, mas alguém que vive uma vida razoável anda profundamente infeliz.
Não é bem isso que acontece com esse meu amigo que jantou comigo, mas razoável quer dizer regular.

E quem vive uma vida regular certamente não está vivendo uma vida boa.
O que me aterroriza é que a maioria das pessoas vive uma vida normal ou razoável.
Eu imagino que seja uma vida sem triunfos, sem acontecimentos positivos marcantes, aquela vida cansativa, nauseante, repetitiva, do trabalho para casa, uma vida sem acontecimentos destacados, uma péssima vida.
No entanto, a vida da maioria das pessoas não deixa de ser um ramerrão, marcado apenas por fatos corriqueiros, singelos, sem maior significação.
Eu fico muito triste de ouvir das pessoas a seguinte opinião, quando se pergunta a elas como vai a vida: “Eu vou indo”.
Eu vou indo é uma coisa meio idiota que quer dizer mais ou menos o seguinte: a vida é uma porcaria.
Ou seja, quer dizer que a vida daquela pessoa não muda, é sempre a mesma, não sai do lugar, passam os anos, longos anos, nada mais aquela pessoa espera da vida que não seja a morte.
E vai indo.
A pessoa não é doente, tem família constituída, tem filhos, tem emprego, mas não tem o que é fundamental na vida: a felicidade.
Eu tenho inveja das pessoas que são felizes ou que se satisfaçam com pouco. Embora eu acredite convictamente que só pode ser feliz uma pessoa que se satisfaça com pouco.
Mas existem também os casos das pessoas que são felizes e não se consideram felizes.
Mas eu acho que não existe o inverso: a pessoa que é infeliz e se considera feliz.
Ainda não se definiu bem o que seja felicidade.
E eu sou tão pessimista, que me consideraria feliz só com o fato de que eu fosse pouco infeliz.

PAULO SANT’ANA - 



Zero Hora.20/05/2012


Nenhum comentário: