quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

es naturalmente covarde sancho
com essa lingua presa na terra
pregada na braguilha dos senhores

alem sapatos bem limpos com cuspe
as canelas finas desses senhores todos
tratadas com perfumes e cremes raros

es naturalmente covarde sancho
desde o berço desde o leite azedo
q te manteve preso no peito ancho

filho de papai sempre filho de mamãe
solta esse pirulito esse prato de mingal
salta dessa terrinha minuscula e fria

es naturalmente covarde sancho
ver viver no mundo de todo mundo
não é viver é rodopiar na manada

viver o mundo é saber q não ha mundo
ha tantos mundos e todos tão desiguais
belos e vastos quanto formigas e vermes

es naturalmente covarde sancho
porq nem a amizade nem o amor
nada reduz o viver ao não tremer

desde agora pra sempre e do sempre
pra gora te desminto e nego e digo
q mentes vivendo essa coisa de medo

es naturalmente covarde sancho
não posso me apartar de mim e da furia
q tanto temes e te borras e tanto gemes

essa furia sancho é a grande hora
o grande corpo a grande lingua q vai
criando alem desse mundo e sua orbita


*Alberto Lins Caldas

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