Quis ter teu rosto num quadro
depois do estrago do drama
quis ler o rastro da chama
que um dia ardeu-te no esforço
de estar num meio adequado
pra mudar regras do jogo
mas vi somente o desgosto
do teu retrato irritado
por dor de todos os lados:
enfado, aborto de gozo...
Trouxeste traços de crenças,
de buscas e desistências...
ou eram meras esperas,
ocultas por aparências,
das horas que se demoram
rodando a rude existência?
Colho do pouco que foste
forçando a história no corpo
colo teus tristes pedaços
olho os teus frutos tão poucos
e sofro certo embaraço
pois deste um morto tão moço!
Penso nos loucos que às vezes
atiram pérolas aos porcos
ou lutam contra moinhos
ou matam morte dos outros...
...os que querem com tanta força
e fazem até que desfazem-se
e morrem sempre sozinhos
jazem inimigos do povo.
Altair de Oliveira – In: O Embebedário Diverso
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