"- E a tua alma? Para onde julgas que foi?
- Deve andar errando pela terra como tantas outras, à
procura de vivos que rezem por ela. talvez me odeie pelos maus tratos que lhe
dei, mas isso agora já não me preocupa. Descansei do vício dos seus remorsos.
(...) Quando me sentei para morrer ela pediu que me levantasse e continuasse a
arrastar a vida, como se ainda esperasse algum milagre que me purificasse das
culpas. Nem sequer tentei (...) E abri a boca para que se fosse embora. E
foi-se. Senti quando me caiu nas mãos o fiozinho de sangue com que estava
amarrada ao meu coração."
.
- Juan Rulfo, em "Pedro Páramo", no livro
"Juan Rulfo. Obra reunida".. [tradução Rui Lagartinho, Sofia Castro
Rodrigues e Virgílio Tenreiro Viseu; revisão Maria aida Moura]. Lisboa: Edições
Cavalo de Ferro, 2010.
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