O relógio, os ponteiros, o tic-tac nervoso,
a garrafa de conhaque pra baixo da metade.
A campainha da porta adormecida, em silêncio,
a janela da sala permanece entreaberta.
O cinzeiro lotado, o cigarro entre os dedos,
respiração afrontada, o poema, o segredo.
O ambiente em penumbra, o mês é setembro,
madrugada chuvosa, faz tempo, nem lembro,
da última vez que ouvi o seu nome.
O livro de poemas, finalmente terminei,
poucos foram vendidos, a maioria eu guardei.
Na estante da sala uma bagunça danada,
livros, corujas, cristais e cds.
Tem tempo não ando pelas ruas da cidade,
enlouquecem-me o barulho e a fumaça dos carros.
O açúcar anda alto, o nome certo é glicose,
o telefone às vezes toca, normalmente é engano.
No canto da sala um quadro inacabado,
monocromático esforço, um árido esboço.
O vaso de plantas, quando lembro, eu rego,
samambaia valente resiste a tudo.
O violão em silêncio, desafinadas as cordas,
não componho mais toadas, estou mais pro bolero,
as teclas do piano traduzem melhor os enganos.
Notícias recentes dão conta que o sonho
ficou a deriva num navio sem cais.
Ainda guardo em meu quarto a aliança, o perfume,
sua fotografia e as cartas de amor.
A chave da casa, escondida, você sabe...
Quando quiser, é só abrir a porta e entrar.
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