De que adianta cercear-me o caminho,
se o meu andar é em desalinho
e por conta de tantos desatinos,
sou mestre em abrir atalhos?
De que adianta cegar-me os olhos,
se ainda assim eu percebo o inimigo,
a tocaia, o perigo, o abismo
e todas as armadilhas da estrada?
De que adianta encher-me de chagas,
se ainda assim eu prossigo
a erguer com minhas mãos um abrigo
e a colher desta terra a semente?
De que adianta abrasar-me nas chamas,
se ainda assim meu coração permanece
e o amor que eu tenho prevalece
sobre todo e qualquer drama?
De que adianta ceifar-me os versos,
se ainda assim eu te proponho o alimento,
o aconchego e o remédio
que irá libertar-nos os sonhos?
De que adianta conduzir-me à morte,
se ainda assim a existência persiste
e imortal é o espírito que insiste
na crença do Criador.
Nada que faças me comove,
nada que tentes me demove,
pois sou eterno nos caminhos que eu tento
e cada vez mais forte na misericórdia do Pai.
NALDOVELHO
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