sexta-feira, 29 de setembro de 2017

DO LADO DE LÁ


Do lado de lá existe um rio
de águas claras, serenas.
Na margem esquerda um moinho,
muito sonho, muito milho, muito trigo.

Na margem direita um povoado,
gente calejada na lida e no sol,
que alonga olhos de perceber horizonte,
que estende braços de alcançar o distante,
e conhece o sentido das fases de um rio,
e o mistério das águas, seus ciclos, destinos.

Do lado de lá existe um templo,
que de portas abertas acolhe crianças,
que no altar brincam de tecer esperanças,
que arteiras misturam enredos, caminhos,
para que com o tempo, desembaraçados os fios,
poderem, sorridentes, misturar tudo outra vez.

Do lado de cá mora um poeta,
águas revoltas, estranhas, inquietas.
Do lado esquerdo um coração já cansado,
sonhos truncados, versos coagulados.

Do lado direito cicatrizes, tatuagem,
um olho que enxerga além da neblina,
e a mão que semeia poemas que falam
de perceber horizontes, alcançar o distante...

Um dia ainda viro água e vou chover do outro lado,
renasço como trigo e alimento as crianças,
vou ser fio trançado no tecido esperança;
não consigo imaginar razão melhor para viver.




NALDOVELHO

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