domingo, 2 de setembro de 2012

A visita

Após o almoço, ao acaso, conversávamos sobre o meio ambiente e sobre um homem que carregava garrafas com poesia dentro delas. A cada praia ele alugava um barco e lançava-as no mar. Vinha caminhando desde nem sei onde com a esperança de que em outros continentes alguma pessoa pudesse encontrar suas garrafas e os versos que fazia.

Vindo de um lugar onde houve um passado em que as florestas eram importantes e que por irresponsabilidade humana transformou-se num lugar árido secando as árvores octogenárias, esse homem, resolveu fazer sua própria odisséia.
Eu perguntei: mas por que ele não faz um livro?
A visita fez um gesto de incompreensão com as mãos e disse que pode ser por que a garrafa, esse objeto fácil de carregar tenha um significado a uma vontade subjacente à conduta humana. E, além do mais, ele pensa que já é comprometimento demais fazer poesias, escrevê-las em papiros e colocar dentro das garrafas. Há todo um trabalho nessa intenção de embalar as rimas e ritmos das palavras.

Foi o que ele contou enquanto afagava o pêlo do nosso gato angorá, o Cristovão.

Mara Paulina Arruda

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