Na sala da repartição
a meu alcance uma caixa de clipes, processos em pilha,
ofícios, relógios, olhar que flutua.
Se o chefe saísse, talvez um verso brejeiro entrasse pela
porta
um verso gaiato que me seduzisse logo no primeiro sopro
e fosse ganhando o papel com o pedantismo de sempre.
Mas o verso não entra, ao contrário, prefere espalhar-se
pelas bananeiras, pelos varais carregados de camisas cáquis
dos vigias noturnos do bairro acinzentado visto da janela.
Vício que esse verso tem de me atormentar
para depois de muito persegui-lo, encantada e servil,
me ordenar que lhe dê vida.
Esse poema faz parte do livro ANTÍDOTO, da poeta, contista,
dramaturga e roteirista maranhense Lenita Estrela de Sá.
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