Certa vez ouvi sobre o cansaço das mulheres ao fim do dia,
depois dos afazeres da casa
Eu sempre gostei de cuidar da casa em seus recantos e
relicários
Espalhar sabão sobre o piso, lustrar a mesa onde ornamento
nossos pratos, talheres e o alimento escasso
Ao fim do dia, cansada, solidarizo-me com as mulheres do
mundo
Deitada sobre minha pequena cama sinto as dores das mulheres
abandonadas
Ao raiar do dia, estendo o lençol transparente no varal,
cheirando a brumas
Sento-me a tecer mínimos fios do tempo, os dedos perfurados
pela agulha são prêmios a verem as rendas cobrirem os pães recém assados ao
lume
O café ralo, o açúcar em pedras e o sorriso no rosto saúdam
mais um dia sem fim
O vidro embaçado da janela reflete meus olhos brilhantes em
minha pequena luta diária
Divido silenciosamente meu desjejum com as mulheres famintas
em suas migalhas de vida
Rita Alves, 2019.
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