Esse é um trecho da introdução, e uma singela
homenagem aos meus amigos barnasianos:
Antes de proceder ao projeto de pesquisa propriamente dito,
caro leitor, ou leitora, é imprescindível que você subverta
sua percepção de realidade. Para isso você vai entrar em um bar. Mas este não é
um bar qualquer e, portanto, você precisa conectar-se a um dispositivo
eletrônico com acesso à World Wide Web. E deve logar-se à uma rede social.
Feito isso ache um ícone de livro. Se tiver dúvida, ao lado do ícone estará
escrito “Bar do Escritor”. Um clique e você estará dentro.
Não se preocupe, você pode entrar sem se fazer notar. Aviso,
porém, que este ambiente é sedutor, e qualquer interação cativa. Não caia na
tentação de tecer qualquer comentário. A Palavra, nesse bar, é equivalente às
sementes de romã ingeridas por Perséfone: um vínculo permanente com o inferno
de germinar poesia, de engendrar a prosa cabal das almas, e o diálogo com as
profundezas. Interação perpetrada e você só poderá sair à luz da razão pelo
tempo estritamente necessário
ao suprimento das necessidades mais básicas, sendo a mais
importante delas prover condições de pagar a conta da
Internet. Uma vez proferida qualquer palavra, surgirão frequentadores, avatares
irrompendo na virtualidade. Você precisa passar por eles. É um teste, fique
ciente. Mas é tudo cena. Não se deixe assustar por esses bebuns (que é como
eles se denominam na fanfarra). Logo você reconhecerá suas vozes, ansiará pela
presença deles, adotará seu léxico e sentirá orgulho de ser mais um barnasiano
ou barnasiana (que é como eles se denominam em despretensão solene). Já não
parece tão ruim, não é?
Mas pare! Não aja antes de saber que este é um bar criado à
imagem e semelhança dos seus melhores sonhos, um bar encerado, polido e
ornamentado pelos melhores artífices da irrealidade, e no qual todos cumprem a
lei de beber até cair nos braços da Musa. E a ressaca...bem, você já assistiu
ao filme Matrix? Pois é, “bem vindo ao deserto do real”.
Se você decidir- ou não conseguir deixar de- exprimir sua
própria perplexidade, saiba que ainda não existe tratamento
para adictos desse bar. Será possível levar a vida com alguma qualidade, mas
logo você fará de tudo para prolongar a embriaguez, e quando a ressaca vier
tentará abrir filiais do bar no deserto do real. Acredite, é certo que você
fará. O sintoma mais grave da adicção é arcar com a
produção de livros, na esperança desse artefato mágico
prolongar o êxtase e o sentimento de pertencimento ao Bar do Escritor ou
qualquer outra rede literária. Em pouco tempo você estará bradando em
saraus,militando em praça pública e angariando espaço em feiras e bienais.Vai
fazer sim! E vai todo prosa, mastigando a língua e arrotando poesia,
numa indiferença crônica ao ridículo. Pensando bem, não
entre no bar. Só leia o projeto. É sério. O projeto.
P.S. : "Eterno baile de máscaras é um poema do F.
Celeti, in: IEMINI, Giovani (org), Bar do Escritor- Anarquia Brasileira de
Letras. Brasília: LGE
Iriene Borges
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