Traduzo
as formas da noite
– cavalos, espelhos, iconostases –
na pele branca da aurora:
tatuagem
em teu cóccix, pinturas rupestres, barulho da chuva.
Traduzo
teu nome impenetrável
na linguagem dos surdos.
Sou teu discurso, teu código de honra, tua suma teleológica,
a mais terrível revelação.
Todos os mundos são meus.
e as órbitas incontroláveis
das partículas elementares.
O amor não ousa
a palavra
que quebraria o encanto...
Traduzo
teu nome, os usos, as bulas, a lâmina de sílex,
a descoberta da graça, a confissão auricular.
Penitência: minha língua em teu púbis, suave flagelação.
Todas as raças irão nos servir.
Não haverá fome esse dia
nem a necessidade de cartões magnéticos.
Traduzo
teu nome
noturno e o transcrevo no dorso da aurora,
no muro, no paço, na carne
do movimento operário.
Sou o fim do prenúncio, o sábado, a chaga transfigurada.
Este é o meu corpo:
tomai, comei.
(Me digas se teremos tortas de maçã para o jantar.
Se chegas para o mês.
Se morres de amor.)
Silêncio. Quando o sol nascer
eu quero ser encontrado
nu,
genuflexo,
na mais perfeita adoração.
Otto Leopoldo Winck
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