terça-feira, 5 de setembro de 2017

O baile


Se você não responde às línguas que falo
calo a saudade
Não saiba na voz doce o desencanto decantado
Não saiba a fantasia de princesa
No seu baile malogrado

Calo em mim o rumor de flores eclodindo
e deito a pétala mal- me- quer
no vestido amarrotado
já embolado nas gavetas da memória
aos panos rotos de outros bailes
em que os buquês murcharam no meu seio
e mãos pendidas ao longo do desencontro
não me enlaçaram

Esse sorriso branco bem bordado
é trama nos tecidos tenros da menina
que ficou às margens do salão
com música alucinando sob o decoro
os acordes esgarçando as rendas do regaço
e pés febris tesos num sapato nunca usado
e a quem coube ir embora
ao primeiro tom da aurora
sem ter dançado


Iriene Borges

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