Andava pelas ruas como se estivesse dentro de uma película
de plástico. Não tocava ninguém nem era tocado. Via, mas não era visto. Mais:
via a si mesmo como se de fora, como num sonho. Dentro de sua cabeça uma voz
contínua narrava-lhe o que lhe ocorria, como se tivesse um narrador dentro de
si. Ou melhor: como se fosse um personagem, um personagem de si, um outro de
si. Ao final das ruas um crepúsculo opaco punha tons de cinza no cenário. Sim,
era um cenário -- e ele sentia que não existia fora da ficção. Se o narrador
calasse, ele extinguiria-se. Mas isso não lhe causava pânico. Ao contrário: uma
paz absurda o entorpecia. A vida podia ser só isso -- uma sensação de não
pertencer-se -- e estava bom.
Otto Leopoldo Winck
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