© Nathan de Castro
Hoje eu acordei com uma frase na cabeça:
— Caveiras de abóboras sorridentes.
Lembranças das férias de julho,
brincadeiras de um moleque de abacateiros,
jabuticabeiras, galos de briga e pipas.
Pipas de velhos jornais no céu de Patrocínio e caveiras
de abóboras sorridentes, iluminadas por velas,
assustando os terrenos baldios da cidade.
Moleque que treinava para poeta, cavando
cavernas e construindo casas de bambu e pita.
Não existiam vazios.
Existia a mania da poesia completa
e o desfile de brincadeiras ladeira abaixo,
em carrinhos de rolimãs.
Certo dia eu vi um camelô vendendo pipas de plástico.
Depois me disseram que nossas caveiras sorridentes
não eram de abóboras, e sim de morangas.
Os abacates e as jabuticabas:
fui reencontrá-los no supermercado.
Galos de granja não brigam.
Carrinhos de rolimãs? Skates importados
com pistas especialmente planejadas...
Ficou essa mania de construir poemas
com bambus e pita.
Quando chove — e sempre chove —
o poema acaba molhado.
Quando venta — e sempre venta —
o poema fica assim:
levantando palavras e derrubando versos.
O meu poeta gosta de cavar cavernas.
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