Cláudia Gonçalves
Eu, um velho. Ela, um menino.
Ou o contrário disso, o mesmo:
a palavra me levasse.
Eu ser o cão da palavra.
Seria: não precisar estar assim, nu
(uniforme
de quando se é funcionário
da coisa nenhuma).
E: nunca mais apertar os olhos
em cadernetas de endereço,
de telefones,
cinema, sem,
ou raramente, encontrá-la
(a palavra). Não mais os mimos,
como se faz com gatos,
leite no prato, à espera.
Imagina: haver uma palavra
sempre a postos, apta
e doce como um dono, um capitão
— seu convés de frases e versos.
Palavra que ordenasse até:
— "nenhum poema"! Eu, cão fiel,
calava. Mas o ar jamais faltasse.
Ela surgiria
como nas noites marinhas
o farol: estrada certa,
luzidia, sem cessar.
Vai o cão.
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