terça-feira, 22 de outubro de 2019

Olhem a orelha que a grande Marcia Denser fez para o meu romance:Que fim levaram as flores




"Se em seu primeiro romance, Jaboc, o cenário era a Curitiba dos anos 2000, neste segundo o leque temporal se amplia: tendo por foco o ano mítico de 1968, sua ação se inicia três anos antes e chega a 2017, numa Curitiba totalmente transformada, como o Brasil e o mundo se transformaram nesse período. Com efeito, Que fim levaram todas as flores tem dois eixos simultâneos: o grande painel da época, com sua produção de vida material e simbólica, e a saga de três personagens que constituem seu núcleo duro: Ruy, Adrian e Elisa – os três jovens que iriam modificar o mundo.
Um achado, este do Otto: a geração dos anos 60, que precisou romper totalmente com o passado e a tradição, também foi a última que sonhou com a Utopia Absoluta. No entanto, como todos sabem, o sonho foi breve, mas enquanto durou – um presente eternamente grávido de todo o futuro possível – ele foi bem real. E é precisamente isso que trata este livro, acompanhando a trajetória desses jovens, desde uma pequena cidade do interior do Paraná até a capital do estado, onde serão levados de roldão pela rebelião estudantil e sofrer os impactos do AI-5.
Contudo, a luta dos jovens, em face da grande massa do povo bovino, não rendia. Como diz Ruy, o narrador: “Para quê pichar, discursar, panfletar, correr da polícia com os olhos vermelhos de gás lacrimogênio se a ditadura não dava sinais de esmorecimento? Era preciso algo mais radical!”. Mas aí fodeu porque afinal o Brasil é um país-continente. Neste livro, Otto Leopoldo Winck é mais historiador/geógrafo do que poeta, a quem interessa mais a paisagem social do que seu conteúdo lírico-passional, embora não despreze este. E a escolha de Otto é o grande painel com os rumos do pensamento e dos movimentos da época. Quem ganha é o leitor, que terá em mãos uma obra com referências precisas de livros, filmes, discos, comidas, bebidas, drogas, receitas de explosivos, modas & gírias. Enfim, a geografia da vida urbana em Curitiba, ao lado de tudo o que se produzia e como se produzia naqueles loucos anos. Um aviso ao leitor: você não vai conseguir parar de ler.
Se o livro abre com uma oficina literária – o laboratório do livro em gestação –, ele se fecha com o reencontro de Ruy e Adrian, quarenta anos depois, agora dois pacatos sessentões, num tradicional bar de Curitiba, fazendo um balanço da vida, num último olhar à chama do futuro que brilhou um dia mas se obliterou nas pesadas trevas que se seguiram. Sim, se o futuro existe, ele já aconteceu. O futuro foi ontem – e este romance é um retrato ficcional dessa época em que os céus pareciam estar ao alcance das mãos."

OLW


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