"Se em seu primeiro romance, Jaboc, o cenário era a
Curitiba dos anos 2000, neste segundo o leque temporal se amplia: tendo por
foco o ano mítico de 1968, sua ação se inicia três anos antes e chega a 2017,
numa Curitiba totalmente transformada, como o Brasil e o mundo se transformaram
nesse período. Com efeito, Que fim levaram todas as flores tem dois eixos
simultâneos: o grande painel da época, com sua produção de vida material e
simbólica, e a saga de três personagens que constituem seu núcleo duro: Ruy,
Adrian e Elisa – os três jovens que iriam modificar o mundo.
Um achado, este do Otto: a geração dos anos 60, que precisou
romper totalmente com o passado e a tradição, também foi a última que sonhou
com a Utopia Absoluta. No entanto, como todos sabem, o sonho foi breve, mas
enquanto durou – um presente eternamente grávido de todo o futuro possível –
ele foi bem real. E é precisamente isso que trata este livro, acompanhando a
trajetória desses jovens, desde uma pequena cidade do interior do Paraná até a
capital do estado, onde serão levados de roldão pela rebelião estudantil e
sofrer os impactos do AI-5.
Contudo, a luta dos jovens, em face da grande massa do povo
bovino, não rendia. Como diz Ruy, o narrador: “Para quê pichar, discursar,
panfletar, correr da polícia com os olhos vermelhos de gás lacrimogênio se a
ditadura não dava sinais de esmorecimento? Era preciso algo mais radical!”. Mas
aí fodeu porque afinal o Brasil é um país-continente. Neste livro, Otto
Leopoldo Winck é mais historiador/geógrafo do que poeta, a quem interessa mais
a paisagem social do que seu conteúdo lírico-passional, embora não despreze
este. E a escolha de Otto é o grande painel com os rumos do pensamento e dos
movimentos da época. Quem ganha é o leitor, que terá em mãos uma obra com
referências precisas de livros, filmes, discos, comidas, bebidas, drogas,
receitas de explosivos, modas & gírias. Enfim, a geografia da vida urbana
em Curitiba, ao lado de tudo o que se produzia e como se produzia naqueles
loucos anos. Um aviso ao leitor: você não vai conseguir parar de ler.
Se o livro abre com uma oficina literária – o laboratório do
livro em gestação –, ele se fecha com o reencontro de Ruy e Adrian, quarenta
anos depois, agora dois pacatos sessentões, num tradicional bar de Curitiba,
fazendo um balanço da vida, num último olhar à chama do futuro que brilhou um
dia mas se obliterou nas pesadas trevas que se seguiram. Sim, se o futuro
existe, ele já aconteceu. O futuro foi ontem – e este romance é um retrato
ficcional dessa época em que os céus pareciam estar ao alcance das mãos."
OLW
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