quinta-feira, 16 de novembro de 2017


E se não é simples ser um louco sensato, um arredio controlado, um alucinado bem resolvido; também não são tão complicadas as soluções. Basta enxergar nas banalidades do mundo alguma novidade, e nas novidades, justas formas de distrações:

Nos jornais, buscam-se revoltas, e a partir delas o certificado de que a loucura foi confundida com fraqueza. Nos livros, enredos, justificativas e motivações para o próprio martírio. Nos cadernos e teclados, desprendimento: cada palavra, um soluço; cada nova razão incorporada, novas manifestações de virtude. E os lampejos de inspiração nos lançam nos braços de novas concepções de vida e de mundo. Por mais que seja inútil a postura.

E na busca pelo estancar dos poréns, a criatividade aplicada pode ser usada não só como forma de deslumbramento, mas de salvação:

Para evitar o sufocamento filosófico, morte às ideologias! Para suportar as cobranças do trabalho, a noção de cotidiano como um grande fingimento; e a participação na farsa como afronta à realidade. Para contornar a força dos revertérios, o completo domínio das variações de humor. Suprimindo os soluços desesperados, a imaginação se torna a diversão do espírito.

Por fim, são ainda necessários os resgates e contornos – já que o excesso é humano, assim como a loucura em si:

Para nos resgatar das entregas, a compreensão dos ressentimentos terrenos. Para estancar com o desespero diante da realidade, a certeza de que o presente é incessantemente mutante. Para romper com dos sonhos inúteis, a busca por necessidades palpáveis. Para encerrar com os pesadelos, a vontade de vencer.

E para aceitar a certeza da morte, se distrair com as desventuras da vida.

Rejane Marques            


  O avesso do espelho: Soluções                                        redutonegativo.blogspot.com


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