E se não é simples ser um louco sensato, um arredio
controlado, um alucinado bem resolvido; também não são tão complicadas as
soluções. Basta enxergar nas banalidades do mundo alguma novidade, e nas
novidades, justas formas de distrações:
Nos jornais, buscam-se revoltas, e a partir delas o
certificado de que a loucura foi confundida com fraqueza. Nos livros, enredos,
justificativas e motivações para o próprio martírio. Nos cadernos e teclados,
desprendimento: cada palavra, um soluço; cada nova razão incorporada, novas
manifestações de virtude. E os lampejos de inspiração nos lançam nos braços de
novas concepções de vida e de mundo. Por mais que seja inútil a postura.
E na busca pelo estancar dos poréns, a criatividade aplicada
pode ser usada não só como forma de deslumbramento, mas de salvação:
Para evitar o sufocamento filosófico, morte às ideologias!
Para suportar as cobranças do trabalho, a noção de cotidiano como um grande
fingimento; e a participação na farsa como afronta à realidade. Para contornar
a força dos revertérios, o completo domínio das variações de humor. Suprimindo
os soluços desesperados, a imaginação se torna a diversão do espírito.
Por fim, são ainda necessários os resgates e contornos – já
que o excesso é humano, assim como a loucura em si:
Para nos resgatar das entregas, a compreensão dos
ressentimentos terrenos. Para estancar com o desespero diante da realidade, a
certeza de que o presente é incessantemente mutante. Para romper com dos sonhos
inúteis, a busca por necessidades palpáveis. Para encerrar com os pesadelos, a
vontade de vencer.
E para aceitar a certeza da morte, se distrair com as
desventuras da vida.
Rejane Marques
O
avesso do espelho: Soluções redutonegativo.blogspot.com
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