Os meninos empinavam pipas;
eu, pássaros.
Os meninos folheavam revistas
de garotas nuas;
eu, assistia ao namoro dos sapos.
Os meninos iam ao cine;
eu, atravessava a pé
o igarapé.
Os meninos desenhavam piratas
tesouros, navios;
eu, a escafandrista solitária.
Agora
solidão nos devora
em negros prédios
meio à elite ignara
Os meninos vestem
negro/desencanto
seguem com cifras
nas pupilas vítreas
Tão tristes os meninos,
reclusos, bebendo
o índice Dow Jones
junto com café.
Trocando de amantes
a cada inverno.
A alma pesada os faz andar
em cadência de elefante.
Eu,
desenho gravuras
em tons rosa chá
teço minhas roupas
danço minhas músicas
escrevo meus poemas.
Não atravesso
o vidro frio do templo
moderno
- shopping center –
Não atravesso
a porta de cedro
do antigo templo
(enquanto o Vaticano
não doar aos pobres
todo o ouro seu)
Vivo nas esferas
desço ao chão
para pisar águas
dos igarapés.
Adormeço
no berço-arraia
que me embalazul
no “mar/
belo mar selvagem...”
BÁRBARA LIA
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