quinta-feira, 2 de novembro de 2017

João Guimarães Rosa - Tutaméia - (Ou "Terceiras Estórias") - Conto "Retrato de Cavalo". (Rosa, João Guimarães; Ed. Nova Fronteira, 5a ediçâo, Rio de Janeiro: 1985; pgs. 146 a 150.)

Análise:

"Dai, pois, como já se disse, exigir a primeira leitura paciência, fundanda em certeza de que, na segunda, muita coisa, ou tudo, se entenderá sob luz inteiramente outra." Schopenhauer.

A citação a Schopenhauer, logo ao início do índice, indica como os mini-contos das terceiras estórias devem ser (re)lidos. Se um romance não se faz apreendido integralmente em única leitura, tampouco mini-romances como os constantes desse livro, idem. Embora a preferência deste que vos escreve seja pelas primeiras estórias, especificamente, o conto "A Terceira Margem do Rio", há aspectos interessantes no conto objeto acima.

A surpresa que nos traz o conto é que o cavalo mencionado é tão personagem como os outros três criados: Bio, Iô Wi e sua namorada.

Bio, o protagonistra principal, é idiossincrático e genuíno como os seres da humanidade: "um retrato é pior do que mau-olhado (p. 148)"; longe de representar superstição, como muitas das análises consideram atributos do protagonista.

Afinal, o casamento de Iô Wi e sua namorada, não só representa, sem supertisções, a estória de um passado enamorado, como a incerteza de um matrimònio futuro. Falar-se-ia de um tempo único, mesclando passado, presente e futuro, por meio de abstrações sobre um retrato.

É nítica a crítica ao método científico Cartesiano. Descartes propõs a realidade em um nível dualístico ("res cogitans" e "res extensa"; respectivamente, mente e matéria). Neste conto, Guimarães Rosa, ao mesclar figuras-objeto por meio da linguagem, dá vida à "res extensa" tranformando-a em "res cogitans": como, por exemplo, "Cavalo de terrível alma!" - p. 149).

Assim, o cavalo que Bio montava, cavalo este adquirido de Nhô Moura, era aquele da sua imaginação, autêntica "res cogitans". Mas, ao final do conto, há o que de melhor oferece o autor aos seus leitores.

Há a morte de (supostamente) dois cavalos e duas idéias às tais mortes associadas. Haveria uma morte do cavalo imaginário de Bio: "cavalo tão cidadão (p. 149)"; logo "res cogitans"; e as ações de Nhô Wi indo em direção oposta. De propósito, para inserir o leitor nesta mescla de objeto-sujeito. E surge a narrativa final. Nhô wi faz traz a confusão ao enredo.

Diz Nhô Wi (da verve "res extensa"), para surpresa: "Você Bio enterrou seu Lirialvo"; "Bio você quer o retrato?"; e "Bio, a gente nunca se esquece..." (pgs. 149).

Eduardo Ribeiro Toledo


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