1.
O canto
é minha explicação,
mesmo
que diga o que não sei.
Sou o
sentido do que se transforma,
do que
resiste à petrificação
e não
conheço o declínio. Ó vós que ouvis
o que
vos diz Orpheu, sabei que tudo
repara o
tempo, salvo a morte,
mensageira
do escuro, poderosa,
que põe
nos corações desde o princípio
seu
germe vingador. Nenhuma Fúria
se lhe
compara, nenhum sustento é eterno,
mesmo se
subtraído à seiva que arde
nas
veias grossas do mundo. Sois mortais
e vosso
sacrifício há de ser grande,
que nada
nos é dado sem o cobro
dos
deuses.
Ouvi, no
entanto, vós, que a ilusão
buscais
sempre na vã agitação:
eu vos
ensino a insubmissão do amor,
a
inquietude que leva até o inferno
em vida,
o êxtase, o delírio. Eu vos ensino
a dor e
vos ensino a cólera,
que ela
vos salve de vosso destino
menor e
implacável. E vos ensino a glória.
De Marly Oliveira
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