sábado, 1 de fevereiro de 2014

ARMADURA EM CARNE MOLE




deus me salve da idade madura,

e me sirva o que passa, a brisa

que perdura, gesto escrito com

brasa, pintura além da moldura,

deus me salve, não me serve, o

amarelo que logo apodrece, a boca

coberta de musgo, não é isso

que almejo, os cravos de Cristo, o fraco

pulso do amortecido, persigo

o que persiste, no ontem,

no quando, no não-sei-onde, um

texto-percevejo, traça que rói

a couraça, torre de onde avisto

e percebo, o não-visto que sempre

provo, quanto menos prosa

trovo, a língua que travo

trinca, recolho vida em verso, e

transmuto treva em rosa

Ademir Assunção

do livro A voz do ventríloquo (2012)

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