segunda-feira, 31 de dezembro de 2018


estive perdido entre os hospitais do peito
e as rodoviárias cansadas que construímos com socos
outrora desviados com maestria samurai

estive perdido, mas este labirinto se voltara
contra as coisas todas que se dizem eternas
conversas de bar e prontuários
de pacientes desenganados
sem mesmo uma qualquer família para oferecer
assuntos fúteis no meio do funeral

eu até pensei que havia encontrado o amor na renúncia
alta floresta de homens sozinhos
noite selvagem cigarros ciganos burgueses
e eu sem denúncia corri para dentro do que chamam ausência
e até pensei que lá estaria
o que tanto tememos mas era pecado falar com estranhos
era pecado sorrir pros vizinhos

estive doente isolado no quarto dos fundos
nenhum telefonema nenhuma promessa
que fosse mentira que fosse por pena
ritos distantes ecoavam, noturnos
e eu em culpa e eu em medo
na maca nos trilhos ou
frente ao pelotão de fuzilamento
sabia pouco sobre náufragos
e procurava âncora nas pequenas ruínas

eu até pensei que estivesse de volta ao lugar mais feliz
que já estive um dia mas não encontrei meu cão vivo
nem sequer espanto sobre a mobília gasta do ano que nasci
tampouco a mão de meu pai devastar a minha
quando o mundo se oferecia outro
era uma clara armadilha de meus olhos
que jamais cansam de inventar o próximo não

Ithalo  Furtado


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