Marcos Loures
Durante praticamente toda a sua carreira como jogador de
futebol Betinho sempre deu muito azar.
Reserva do melhor jogador do time de Pedra Roxa, o famoso
Léozinho “patada”, por ter o chute mais poderoso do Sul do Espírito Santo,
esperava ansioso pela oportunidade de poder mostrar o seu talento, ou em busca
da posição de titular ou, quem sabe, poder ser visto por outro clube e se
transferir.
Betinho era um canhoto muito habilidoso e tão supersticioso
quanto.
Nos seus tempos de menino, sonhava sempre com a camisa 11 da
seleção brasileira, mirando sua carreira na de Zé Sergio, famoso ponta esquerda
do São Paulo e da Seleção Brasileira.
Dormia e acordava pensando em futebol, sua paixão pelo Vasco
da Gama tinha lhe dado muitas alegrias, principalmente quando o Flamengo
perdia.
Aí se realizava totalmente, ficava a semana inteira
sorrindo, mais feliz até do que quando o vascão lograva ganhar.
No infantil e no juvenil, a carreira ia de vento em popa até
que, numa hora maldita, o tal do Leozinho, camarada nascido lá em Caiana,
Minas, se mudou para Pedra Roxa.
Daí em diante, somente decepções.
Mas, como o sol nasce para todos, um belo dia apareceu a
oportunidade que Betinho tanto esperava.
Leozinho que quase nunca se machucava teve um estiramento
muscular, não foi um estiramento comum, havendo até ruptura muscular e logo da
coxa esquerda, a da “patada”.
Betinho, com toda a superstição desse mundo, resolveu
procurar uma mãe de santo para poder se aconselhar como poderia aproveitar
melhor aquela chance.
A mãe de Santo foi inexorável – teria que colocar dois
bombons caseiros dentro da sunga e jogar com os bombons, sem poder retirá –
los.
Esses “bombons” santificados pela dona Filinha eram a chave
do sucesso.
Betinho, muito crédulo, assim o fez.
O jogo era contra Limo Verde, clássico intermunicipal;
sempre envolto em muitas confusões, principalmente se o jogo fosse ao campo do
Limo Verde e esse era o caso.
Como o uniforme do Limo Verde era obviamente verde, o Pedra
Roxa resolveu jogar com o seu uniforme reserva; totalmente branco.
O dia estava muito quente e o sol estava escaldando, mais de
trinta graus à sombra.
Betinho, empolgado com a oportunidade, obviamente não se
esqueceu dos bombons.
O jogo começou muito corrido, e com o calor e a
transpiração, os bombons começaram a derreter.
Bombom dentro de sunga branca em calção branco, derretido;
imagem como ficou.
O técnico ao ver a cena nem pestanejou: “esse menino não tem
condições de jogar no meu time” e, imediatamente sacou-o do jogo.
Assim, nesse mal entendido, mas nem tão mal cheiroso, a
carreira promissora do nosso ponta esquerda, acabou.
Ao sair de campo, foi direto à casa de dona Filinha, que
disse o seguinte:
-Mas vancê é muinto burro mesmo, pru não feiz com os bombons
com chocolate branco?
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