Um dia, numa encruzilhada (porque
essas coisas são sempre numa encruzilhada), topei com o diabo. Não tinha
chifre, nem rabo, nem cheirava a enxofre. Pelo contrário, era uma linda figura
andrógina, vestido muito elegantemente. Diríamos um dandy.
Deus me mandou jogar sua sorte,
ele disse.
Pensei que andavam brigados...
Isso é lenda. Somos parceiros. As
coisas que não dão certo eu assumo a culpa. E a fama.
Tá, e esse lance de jogar minha
sorte?
Eu vou jogar essa moeda. Se der
cara, você será feliz. Grana, mulheres, sucesso. Se der coroa, você vai ser um
outro Dostoiévski.
Porra, não tem um meio termo?
Sem me responder, ele lançou a
moeda. Depois de descrever voltas no ar, ela caiu. De pé.
Que significa isso?, eu
perguntei. Vou ser os dois?
Não, ele respondeu, com um
sorriso entre os dentes. Você não vai ser nem um nem outro.
* * *
E desde então eu não faço outra
coisa, senão escrever esses contos merreca em guardanapos de papel. Não preciso
nem explicar que ando sem um puto no bolso.
Otto Leopoldo Winck
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